Teoria - o que aconteceu com o Reino Antigo
- Luis Humberto Barbosa Borges
- 21 de out. de 2021
- 9 min de leitura
Você com certeza, em algum momento, já parou para pensar que o Grande Reino descrito por Clover (cap. 395, págs. 8 e 9) ou mesmo Laugh Tale é uma referência a Atlântida, o lendário reino “perfeito”, com tecnologia avançada e que teria dominado boa parte do mundo. E é fácil chegar essa conclusão, uma vez que uma rápida pesquisa pelo google e chegamos
“O mito da Atlântida baseia-se, desde o princípio dos tempos, na existência de uma ilha chamada Atlântida, que, juntamente com todos os seus habitantes, fora engolida pelo oceano. Os sábios estudavam o movimento dos astros e meditavam sobre os segredos do Universo enquanto os homens se fundiam nos mistérios da natureza. O homem comum tinha acesso a todo este conhecimento e vivia sabiamente na simplicidade do dia a dia, gozando da paz que o respeito pela tradição e pelas leis equilibradas gerava. A sua perfeição e felicidade eram tão grandes que os próprios deuses ficaram invejosos e resolveram seduzir os habitantes com a ambição do poder e das conquistas.
Os atlantes formaram exércitos invencíveis, só possíveis com os seus elevados conhecimentos científicos. Invadiram a Europa e a Ásia, matando e pilhando, vencendo e escravizando. Dominadores da Terra, voltaram vitoriosos a Atlântida, acompanhados de tesouros incalculáveis, belas princesas escravizadas e humilhados guerreiros algemados. Recebidos com êxtase pelo seu povo, os guerreiros atlantes, orgulhosos e arrogantes, em vez de agradecerem aos deuses dos céus, elegeram um imperador como o deus atlante na Terra. Ressentidos, os deuses fizeram tremer a terra e provocaram inundações tais, que, no dia seguinte, no lugar onde antes existia a grande Atlântida, estendia-se o oceano imenso e azul. Atlântida fora recebida pelo reino de Poseidon.”
Com isto em mente, é fácil encontrar paralelos entre o mito de Atlântida e o Grande Reino citado por Clover.
*Atlântida e o Grande Reino foram dominadores de grande parte do mundo e gozavam de alta tecnologia (o que provavelmente pode ter sido a fonte das akuma no mi e/ou das armas lendárias), conhecimento de ciência e astrologia, capacidades e poderio que o destacavam dos outros reinos e atraía a inveja dos outros.
*O reino era sinônimo de perfeição, onde seus habitantes viviam em aparente harmonia.
*Os próprios deuses sentiram inveja de Atlântida ao ponto de seduzirem seu povo. Isso é uma possível perfeita referência aos Tenryuubitos, e à forma como o Grande Reino caiu, de forma que os Tenryuubito hoje consideram-se verdadeiros deuses. A palavra Geoise, de Marie Geoise, nome romantizado da cidade onde vivem os Tenryuubito, significa ‘inveja’ em irlandês, além de ser uma referência à palavra burguesia.
*Nas citações tanto sobre Atlântida quanto sobre o Grande Reino Antigo, a vasta riqueza dos reinos chama a atenção. Curiosamente, Wano e Shandora, aliados de primeira hora do Grande Reino eram conhecidos, respectivamente, como país do Ouro (cap. 937, pág.7) e Cidade do Ouro ou “Eldorado”.
*Atlântida passou a ser parte do reino de Poseidon ao final do mito, o que, se observado com atenção, pode indicar que o Grande Reino caiu diante dos poderes de Poseidon. Ou ainda, que este Reino, seja ele Laugh Tale ou não, está no fundo do mar.
Tendo todos esses paralelos e assumindo que este seja o real destino do Grande Reino de 800 anos antes, precisamos olhar na história e na mitologia para entender como isso pode vir a ser retratado em One Piece. Outro ponto que parece ser referência para One Piece é a Guerra dos Cem Anos foi uma série de conflitos travados pelos governantes do Reino da Inglaterra, contra a Casa de Valois, governantes do Reino da França, sobre a sucessão do trono francês. Cada lado atraiu muitos aliados para a guerra. Foi um dos conflitos mais notáveis da Idade Média, em que cinco gerações de reis de duas dinastias rivais lutaram pelo trono do maior reino da Europa Ocidental.
Disto podemos tirar que a queda do Grande Reino pode estar ligado à duas facções, ou dois irmãos que competiram pelo trono.
Segundo Diodoro Sículo, historiador grego que viveu no século I A.C., “Uranus teria sido o primeiro rei dos Atlantes. Este povo justo e piedoso vivia nas margens do oceano e Uranus tê-los-ia apresentado à civilização e à cultura. Enquanto astrónomo hábil, teria sido o responsável pela invenção do primeiro calendário, que se baseava no movimento dos astros, sendo também capaz de adivinhar acontecimentos futuros. No seu leito de morte, ter-lhe-iam sido atribuídas honras divinas, que se teriam tornado progressivamente complexas, sendo por isso confundido e identificado com o próprio céu.” Ainda seguindo essa lógica, seriam descendentes de Uranus, Hélio (o Sol) e Selene (a Lua), além de Cronos.
Sob essa ótica, a mitologia grega que conhecemos teria uma raiz humana e muito mais racional do que normalmente nos é apresentada. Mas, por que isso é importante?
Em primeiro lugar, porque assim como Poseidon, que era o nome da princesa sereia de 800 anos atrás, é possível que Uranus também seja o nome de alguém que viveu 800 atrás se Uranus for uma pessoa e seguindo essa lógica, Uranus seria o rei do Grande Reino.
Outro ponto importante é que One Piece recorre em vários momentos ao “fator de linhagem” para explicar que uma determinada habilidade ou capacidades, direitos e semelhanças físicas sejam herdadas, como Shirahoshi que é descendente de Poseidon, os Tenryuubito como descendentes dos fundadores do Governo Mundial ou Oars Jr. descendente de Oars. Seguindo a mesma lógica para Uranos, suas habilidades tenderiam a aparecer novamente em seus descendentes.
E é importante destacar esses três descendentes de Uranus por razões simbólicas: Hélio (o sol), Selene (a lua) e Cronos (o tempo).
Primeiramente, vamos discorrer sobre os dois primeiros.
O SOL E A LUA
Todas as culturas mais antigas possuem panteão de deuses politeístas figuras referentes ao sol e à lua. Isso porque para os povos antigos, sol e lua são representações de antagonismo claro em termos de funções. O sol simboliza a luz, o fogo, o calor, o dia, a vida… e a lua simboliza as trevas, o frio, a noite, a morte…
Dentro do conceito chinês de Ying e Yang, onde o Ying possui em si toda a simbologia da lua, enquanto o Yang possui a simbologia do sol, vemos também que o homem e a mulher são representações de Yang e Ying, e logicamente, trazendo isso para as outras mitologias, significa que o Sol e a lua devem ser representados por um homem e uma mulher. Ying e Yang juntos são o conceito de harmonia.
E assim vemos em quase todas as mitologias antigas, onde os deuses do sol são homens (Yang) e os deuses da noite mulheres (Ying). As exceções são a mitologia japonesa e nórdica, na primeira, o sol é representado pela deus Amaterasu e a lua pelo deus Tsukuyomi e na segunda, o sol é representado pela deusa Sól e a lua pelo deus Máni..
Enfim, a representação de sol e lua estão intimamente ligadas à One Piece e recorrentemente aparecem das mais variadas maneiras, tanto simbólica como literal, trazendo consigo consequências para a trama.
A figura do sol está sempre associada à visão de herói, de deus, de vida nova e de liberdade: Nika, o “deus do sol” (cap. 1018, pág.12) era aquele que ajudava os escravos, Alabasta (Cap. 182, pág. 14) e Kouzuki tem um sol em seus respectivos brasões, Joy Boy e as promessas do amanhecer (cap.877, pág.12) e da superfície (cap. 649, pág. 18), etc...
Por outro lado, a lua, também aparece diversas vezes em pontos estratégicos da trama e principalmente ligada aos países que, de alguma forma, estão ligados ao Reino Antigo. Como Shandora (que deriva da palavra “Chandra”, do Sânscrito para lua”), como os 5 clãs nobres de Wano cujos sobrenomes todos tem o kanji ‘tsuki’(lua), como os Lunaria (palavra oriunda do latim “lunarian”, que significa pertencente à lua) ou os Mink e sua relação direta com a lua.
Outro ponto a ser considerado é que todos aqueles que têm relação com a lua e que foram aliados do Grande Reino tiveram consequências visíveis durante o século perdido. Os Mink e Wano exilados, Shandora e os Lunaria destruídos, etc...
Aliás, Shandora é a cidade que está “no olho direito da caveira” que forma a ilha de Jaya. Na mitologia egípcia e em outras crenças o olho esquerdo é ligado à Lua, e o direito ao Sol, o que nos leva a crer que se Shandora é uma cidade que representa o sol (olho direito), havia uma outra cidade que representava a lua. Coincidentemente, os Minks foram divididos por duas facções lideradas por Nekomamushi e Inuarashi, respectivamente, os reis do dia e da noite.
Tendo em vista que o sol e a lua são descendentes de Pluton, por exemplo, nos permite observar o kimono de Toki (cap. 964, pág. 10), onde seu kimono tem uma lua e o símbolo do clã dos Kouzuki, que é um sol. Outra simbologia é que os sobrenomes de Toki e Oden, Amatsuki e Kouzuki, respectivamente, são escritos com dois kanjis, onde o segundo se escreve como ‘tsuki’ (lua) e os dois primeiros, respectivamente, fazem referência ao ‘céu’ e a ‘luz’, o que também é uma referência ao sol, a ‘luz no céu’. Partindo desse raciocínio, Momonosuke e Hiyori são filhos da luz e do céu, que estão presentes nos sobrenomes de seus pais e representam o sol e a lua. Logo, a frase de Momonosuke (cap. 1014, pág. 4) ao ler o diário de Oden: “parece que eu realmente não posso morrer”, passa a ainda mais sentido.
Outro ponto curioso é que no cap. 968 (pág. 4), os reis dos mares falam da ansiedade e da espera pelo “dia em que os dois soberanos se encontrarão novamente” e ainda na mesma página, que “esperam que tudo ocorra bem dessa vez”. Sabemos que um dos dois soberanos é Poseidon e portanto, trata-se de Shirahoshi. Curiosamente, no cap. 948 (pág.4), um dos Reis dos Mares diz que “por alguma razão, nasceu na forma de uma sereia…” o que nos leva a ideia de que Poseidon de 800 anos antes pode não ter sido uma sereia.
É plausível também que o outro soberano se trate de Uranus ou de Joy Boy. E é ainda mais plausível que a vez que não “não deu tudo certo” aconteceu 800 anos atrás.
Outro ponto a se observar é a precisão de 800 anos, entre o século perdido e o “dia em que o mundo viraria de pernas pro ar” que Toki procura (cap.973, pág.11),o que nos leva a crer que houve algum evento específico ou haverá algum evento específico neste período de tempo. Considerando o mundo de One Piece, duas possibilidades lógicas vêm à cabeça: um eclipse solar total e/ou um alinhamento entre as luas e o mundo de One Piece. Considerando que na mitologia chinesa, os eclipses estavam associados à crença de um dragão que vivia nos céus atacaria o sol ou a lua em determinadas situações (eclipses) e que, simbolicamente, os Tenryuubito (dragões celestiais) de fato roubaram o “trono” do mundo do sol e da lua, é mais provável que seja a primeira opção.
Faz ainda mais sentido ao se considerar que os astros envolvidos no eclipse são o sol e a lua, além de que o eclipse sempre está ligado às imagens populares de final dos tempos como o Apocalipse, o Ragnarok, etc…
Some isto ao fato de que o terror dos povos antigos dos eclipses estar relacionado à escuridão e ao fato de que Sol e Lua influenciam diretamente a terra por conta da gravidade de ambos. Então, não é difícil associar que o eclipse pode causar um efeito de enfraquecimento ou anulação dos poderes das Akuma no mi, tal qual a Yomi Yomi no mi de Teach consegue fazer.
Todavia, o fato de um eclipse não invalida a possibilidade de um alinhamento das luas que orbitam o planeta de One Piece, pois podem ser dois eventos que aconteçam ao mesmo tempo.
E por falar em tempo, o sol e a lua também estão intimamente ligados à passagem do tempo, uma vez que a percepção de dias, noites, anos e eras depende desses dois elementos.
CRONOS
Cronos na mitologia grega é o deus do tempo, filho de Uranus e a palavra ‘tempo’ em japonês é “Toki”. Curiosamente, Amatsuki Toki, saltava no tempo desde 800 anos até conhecer Oden, claramente procurando por alguma coisa. A hipótese é que Toki pode ser a princesa mais nova do Grande Reino Antigo, filha de Uranus. Essa hipótese é validada pelo fato de que Toki “não sabe onde nasceu, mas sabe que seus pais eram originalmente de Wano” (Cap. 965, pág. 2).
Outro ponto crucial é que Uranus, segundo Diodoro Sículo, era um astrónomo hábil, teria sido o responsável pela invenção do primeiro calendário (e podemos ver em One Piece que há dois sistemas de calendário, o calendário da Era do Círculo Marítimo, Kaienreki, e o calendário da Era do Paraíso, Tenreki), que se baseava no movimento dos astros, sendo também capaz de adivinhar acontecimentos futuros. O Keinreki é usado por Noland na descrição dos eventos da chegada em Jaya, enquanto que o Tenreki é usado por Robin durante a leitura do Poneglyph na Tumba dos Reis em Alabasta.
O fato de Uranus poder fazer previsões do futuro com base na astrologia contrasta com porque Toki estava saltando no tempo e com o que vimos os estudiosos em Ohara estudando (cap. 392, pág.4 ), onde podemos ver claramente uma maquete do sistema astrológico do One Piece, além de trazer à tona que a profecia de Toki pode não ter sido para Wano, mas para o mundo inteiro.
E levando em consideração o fator de linhagem, também se explica a capacidade de Momonosuke de dar ordens a Zunisha (cap.821, pág.13 ), a falta de informações a respeito de Uranus (já que Toki estava saltando no tempo), a razão pela qual Wano era aliada do Grande Reino na guerra anterior e é claro, o fato de que Momonosuke é Uranus, tal qual Shirahoshi é Poseidon, por herança de fator de linhagem.
Levando em consideração que até o momento não há fatores que neguem a informação de que Pluton é um barco, é plausível a afirmação de que “o encontro dos dois soberanos”, refere-se ao encontro de Momonosuke e Shirahoshi, algo que ainda não vimos em One Piece, mas que pode estar se aproximando à medida que One Piece se aproxima de seu fim. Ou também de Shirahoshi e o Joy Boy, que provavelmente é Luffy.

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